04 setembro, 2008

Arrumar os pratos.

'Os pratos são com as flores viradas para a parede, as talheres azuis tem que combinar e pertencem à mamãe. O copo do Bob Esponja é da irmã, o copo chinês é da mamãe e eu não posso esquecer os guardanapos de papel'

Ela não podia esquecer a ordem, não podia esquecer os detalhes. Tudo tinha que sair perfeito, sempre. Sua mãe chegava, olhava o copo chinês e dizia que preferia o japonês, olhava as flores dos pratos viradas para a parede e dizia que preferia-as viradas para a porta. Jogava tudo no chão e não comia sequer um grão.
A garota do café recolhia a comida e os cacos de vidro jogados ao chão todos os dias. Jogava cada coisa em seu devido local, tudo perfeitamente. Vidros enrolados em papéis, jogados em sacolas separadas. Comidas no lixo orgânico, papéis no lixo azul.. Cada detalhe era meramente importante à garota. Ela não sabia o que podia acontecer se ela não fizesse a coisa certa, e tinha um proufundo medo de fazer a coisa errada.

Certa vez a garota aproveitou que estava sozinha e ligou a TV, no programa de mais opibe daquele canal: Novela! A trama dizia algo sobre uma menina que sofria em sua casa, e que deixou todo aquele sofrimento de lado para seguir um sonho: ser modelo. A garota do café, inspirada em sua mais nova diva, fez algo inacreditável. Naquela noite ela não arrumou a mesa da janta, e simplesmente foi dormir.
- Ninguém come mesmo, não vai fazer diferença. - Ela disse para si mesma.
Antes de se deitar a garota abriu a caixinha que alertava 'Medicine' e pegou alguns comprimidos brancos, vermelhos, azuis e vermelhos. Colocou todos em sua garganta e engoliu a seco.
Sua mãe chegou em casa, viu a mesa sem os pratos, sem comida. Os detalhes que sempre estavam ali, perfeitos, não estavam mais. A mãe, furiosa, não quis saber de sua filha naquela noite. Por mais que ela fosse ruim daquele modo, ela amava sua filha. Na manhã seguinte a mãe foi acordar sua filha. Mecheu, revirou e arrancou as cobertas da menina, mas ela estava pálida, gelada.. seus olhos não abriam, ela não se mechia. Nem respirava. Os remédios surtiram efeito. Seu sonho se realizou. Naquela manhã a menina do café não acordou.

Um comentário:

Carol disse...

méldéls o.o' que triste isso ;;